As esteiras rolantes de aeroportos são portais mágicos. Nos fazem viver de saudades, enquanto caminhamos para um futuro desejado. Misturam lágrimas e sorrisos na mesma proporção. Há de haver coragem para bancar nossos desejos e ainda mais coragem para abraçar as faltas que vêm junto deles.
Saudade é substantivo que basta em si. Saudade de algo que já passou são saudades gostosas. Daquelas que você mata a vontade contando histórias, por vezes trágicas, por vezes cômicas, ou uma mistura de ambos. Passa foto, joga conversa fora, pega um café quentinho ou uma cervejinha gelada. Pronto, o que era saudade vira lembrança.
Aeroporto da Filadélfia, janeiro, 2025.
Devia estar trabalhando, mas escrevo para ver se alivia. Essa semana nos despedimos de 8 amigos que toparam atravessar o oceano e dirigir algumas horas para conhecer nossa casinha no interior de outro país. De quebra, ainda viajamos juntos por quase 10 dias. Agora a casinha volta a ser eu&Luccas-Luccas&eu. Parece até que o lar ficou vazio num silêncio ensurdecedor.
É difícil entender essa tal de saudades. Só sei que agora bateu. Todas as visitas se foram. O vazio ecoa a lembrança das risadas desmedidas, o bom dia de alguém descendo as escadas, os esporros na Pagu mordendo calcanhares alheios. Chorei me despedindo, choro de novo ao escrever.
Tínhamos uma ideia e um sonho. Dizem que sonho sonhado junto se torna realidade: e assim foi. Quase ninguém acredita que um grupo de 10 pessoas (com 8 sendo advogados rs) consegue se organizar tão bem a ponto de 1) não se matar nem brigar a não ser pelo truco ou uno, 2) confluir em vontades e tempos já que a vida adulta pode ser cruel em abrir espaços na agenda.
Concluímos com sucesso uma viagem que, ouso dizer, guardaremos todos nos nossos corações. Na memória, não fica só o encantamento com lugares novos e comidas diferentes, fica a lembrança do carteado em todo e qualquer bar. O risinho no canto do rosto de lembrar da algazarra em todo restaurante, sempre com um deles falando “galera, vamos falar mais baixo”. A testa franzida junto da gargalhada sincera de cada piada de tiozão que os homi desse grupo soltavam. A dança de pratos na mesa para que todos pudessem compartilhar de diferentes sabores.
Foram meses sonhando com essa viagem e sonhando em mostrar nosso (novo) lar pra eles. Em ter tempo de cozinhar nossos pratos preferidos, em fazer uma ceia de ano novo - e agora entendemos como nossas mães e avós se cansavam ao cozinhar para tanta gente. A verdade é que precisaria de mais um tanto de tempo para dar conta de tudo que queríamos fazer e mostrar.
Nunca mais vou tomar um chá ou café pela manhã sem lembrar deles com nossos conjuntinhos de xícaras novos. Escutando nosso novo LP da Liniker. Sentindo gosto do melhor café (aka, o brasileiro que coloca o espanhol pra mamar). Vai ser estranho não ter a sala cheia com o burburinho de todo mundo falando junto ao mesmo tempo.
O coração bate diferente com o privilégio de ter 30+ e poder fazer uma viagem pra outro continente com um grupo de amigues no auge da vida adulta, quando equilibrar o pratinho entre rotina-trabalho-e-uma-lista-interminável-de-tarefas é um desafio. Ouso dizer que, nem nos meus melhores sonhos, teria sido tão bom. O gostinho de compartilhar a vida e nutrir nossos afetos com todos os imprevistos e contratempos da vida real é muito melhor que qualquer imaginação possível.
Amigos, se estiverem me lendo, já estou com saudades. Hervás e eu também não somos os mesmos sem vocês. Amo cada um muito-muitão.









Aeroporto do Rio de Janeiro, maio, 2025.
Ojalá que los míos nunca se muden. Mas eu me mudei. Pra longe! Haja coragem para também sustentar nossas incoerências.
Em plena segunda-feira bebendo vinho com minhas amigas, comendo pizza e falando um monte de besteiras. Na terça, encontrei outra. Quinta, viajei. Isso sem contar que na semana anterior dormimos na casa de um casal de amigos. Conhecemos a casa nova de outro. Tomamos café com fofoca e carinho com outra amiga. Também fiz risoto com meus amores, chorando de rir de tristezas que se tornam piadas.
Vivi 30 vidas em 1. Brasil é casa, mas Rio é intensidade. Avalanche de encontros com presença. De corpo e alma. A ansiedade de chegar e dar conta (uma ilusão) é ínfima perto daquele sentimento que dá sensação de ser inteiro (amor que chama?).
Viver a vida que tenho escolhido no presente tem o preço de estar longe dos meus. Ainda assim, é delícia voltar e sentir tanto amor. Recarregar as energias - e nem parece que dormi 6h por noite num malabarismo de trabalha-se diverte-equilibra agendas. Me despeço da minha cidade sem sequer ter sido capaz de abraçar todas as pessoas que amo, mas abracei muitas. Em breve eu volto. Tô ficando boa nesse vai e vem.
Pé direito, porta do embarque se abrindo. E lá vou (vamos) de novo recarregada de afeto. Até logo, Rio.









Hervás, junho, 2025.
As saudades que viram lembranças eram as que eu conhecia. São bonitas no reencontro e dolorosas nas despedidas. Mas e a saudade de alguém que não está mais presente? São saudades flutuantes. Elas mudam igual montanha-russa.
Tem vezes que relembrar, basta. Tem vezes, que o choro é automático. Tem vezes que arranca sorriso do rosto. Tem vezes, que aquela pessoa se comunica pelos sonhos. Chega como se nada tivesse acontecido e te faz uma surpresa gostosa. Por outras, nada parece suficiente pra afagar algo que está pulsante. Essa saudade não passa. Ela vem te visitar com frequência, mas daí você aprende a ser melhor anfitrião e abraçá-la com mais gosto. Ita-e-vovô-são-sinônimo-de-saudade.
Estar vivo é colecionar saudades. Desejo que você possa sentir e viver de saudades.
Com afeto,
Naná (com acento no a).
Conseguir falar de saudade não é fácil!!! Amei te ler, ora com coração expandido, ora com ele apertado.. importante é se deixar sentir, né?! Obrigada pelas palavras sensíveis 🥲
Que texto mais gostoso de ler, Naná... "Há de haver coragem para bancar nossos desejos e ainda mais coragem para abraçar as faltas que vêm junto deles."
A vida de quem muda tem um sabor de saudade que é difícil dosar mesmo. Mas que privilégio é poder viajar com 10 amigos (não lembro a última vez que vi isso acontecer) e ainda mais poder vivenciar um lugar que era tão especial para sua grande saudade, Ita. Que nossos caminhos se cruzem logo, mulher, 💛